Agrotóxicos, defensores ou ofensores?
“Uma pessoa morre por envenenamento por pesticidas a cada 2 dias no Brasil. Cerca de 20% das vítimas são crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos.”
Uma afirmação assustadora publicada pela rede ambientalista Friends of the Earth Europe¹ em Abril de 2022.
O que de fato sabemos sobre estes pesticidas? Ou, para nós brasileiros, AGROTÓXICOS².
O QUE SÃO AGROTÓXICOS E PARA QUE SERVEM?
De acordo com a legislação vigente³ (MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; MS – Ministério da Saúde e MMA – Ministério do Meio Ambiente) agrotóxicos são:
“produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento”
Podem ser utilizados em diversos tipos de ambiente⁴ como florestas nativas, ambientes hídricos e ambientes urbanos e, onde são mais comumente empregados, nas lavouras de monocultura.
Agrotóxicos também são conhecidos como Defensores Agrícolas que garantem a produtividade das lavouras, pois o seu uso está ligado ao combate de possíveis pragas e doenças que atacam as plantações. Estes compostos têm a capacidade de agir sobre a atividade biológica dos agentes nocivos para preservar das espécies cultivadas.
O Brasil está entre os países que mais consome agrotóxicos no mundo⁵, foram cerca de 1,883 bilhão de hectares⁶ tratados com defensivos químicos em 2021, o que resulta em um valor empregado de cerca de US$14,65 bilhões. Todos estes números estão ligados ao fato de o Brasil ser também um dos maiores produtores agrícolas do mundo, principalmente de soja. Inclusive, parte das nossas sementes melhoradas, já é manipulada para utilizar estes produtos químicos, portanto elas dependem destes produtos para se desenvolverem.
Como curiosidade, vale citar que não é verdade que existam mais pragas ou maior variedade de doenças relacionadas à agricultura no Brasil. O fato é que o uso de agrotóxicos há muitos anos permitiu que as pragas que aqui existem ficassem mais resistentes.
A Legislação no Brasil (Lei de Agrotóxicos nº 7.802, de 1989, regulamentada pelo Decreto Nº 4.074, 2002|6|)⁷ prevê as restrições de uso, quais produtos podem ser utilizados, em qual quantidade e por quem podem ser manuseados. Porém a partir de 2019, com a alterações das leis, flexibilizou-se as regras de produção, comercialização e distribuição de agrotóxicos e passou-se a prever que o Ministério da Agricultura seria responsável pela liberação dos agrotóxicos no Brasil, sem a intervenção do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Desde então, foi liberado o uso de mais de 1560 agrotóxicos no Brasil, sendo cerca de 23% são considerados extremamente tóxicos à saúde e 2,5% tóxicos ao meio ambiente⁸.
MAS QUAIS SÃO OS PROBLEMAS QUE OS AGROTÓXICOS REALMENTE CAUSAM?
Os agrotóxicos alteram o ecossistema do local onde são aplicados.
E, quando mal aplicados, podem gerar problemas para as culturas agrícolas vizinhas e aniquilar insetos “do bem”, como as abelhas. Além disso, há um aumento na probabilidade de contaminação ambiental que causa consequências graves ao meio ambiente e aos seres humanos.
A contaminação do solo pode ocorrer em regiões onde é praticada a agricultura com exposição a agrotóxicos, seja pela aplicação destes produtos químicos diretamente nas plantas (onde deixam resíduos na casca) pela absorção nos alimentos ou até mesmo pelo uso de águas contaminadas.
Partículas de agrotóxicos também podem ficar em suspensão no ar, o que pode vir a ocasionar intoxicação de pessoas e seres vivos através da respiração do ar contaminado.
A água também é frequentemente contaminada pelo uso dos agrotóxicos, seja pelo despejo intencional destes agentes químicos na natureza ou pelo escoamento natural dos locais onde são usados, influenciando toda a vida aquática e quem dela depende.
O impacto dos agrotóxicos não é dado somente pelo contato direto com estas substâncias, se dá também pelo acúmulo de toxicidade na cadeia alimentar, como por exemplo através do consumo de um peixe que vive em um rio de água contaminada por agrotóxicos.
Em seres humanos, alguns tipos de agrotóxicos são conhecidos por causar lesões nos rins, cânceres, problemas na fecundidade, sistema nervoso e envenenamento.
E O QUE PODE SER FEITO?
Diante de tantos impactos do uso de agrotóxicos é de suma importância que haja um descarte adequado destes componentes e que o uso destes compostos químicos seja feito de forma consciente e sustentável. Para além disso é imprescindível que estudemos cada vez mais novas maneiras de proteger a plantações sem que existam impactos no meio ambiente e risco à saúde dos seres vivos.
É preciso expandir a consciência de que não é possível ter todos os tipos de alimentos durante todo o ano.
É trabalhar COM a natureza e não contra ela.
Fontes de pesquisa:
- 1 – Friends of the Earth
- 2 – G1 – Globo.com – Economia – Agronegócios – Notícias – 2019/10/07
- 3 – Portal Gov.br – Legislação
- 4 – Escola Kids
- 5 – Só Científica
- 6 – CNN Brasil – Business
- 7 – Portal Gov.br – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
- 8 – R7 – Notícias – Brasília
- Brasil Escola
- G1 – Globo.com
- Fotos: Unsplash
Escrito por: Aryadne Egawa - Especialista em Marketing Estratégico na HydroInfo